Rangel Alves da Costa*
À sombra dos laranjais. Muito acontecia à
sombra dos laranjais. Eis o passado para dizer como era doce e singela a vida.
Um tempo de romantismo, de verdadeiros amores, de paixões justificadamente
profundas, de poesia nas relações, de beijos e abraços apaixonados, de saudades
lacrimosas e atormentadoras. À sombra dos laranjais, sob o entardecer de brisa
e flor, a mocinha suspirava seu saudoso amor ou mesmo sua devastadora vontade
de ser amada. Tão bela e tão solitária, tão linda e tão carente de afeto amoroso,
tão pulsante no jardim corporal e tão relegada à tristeza da solidão. Somente
lhe resta abrir a janela, sentir o perfume da brisa, olhar para as nuvens e
avistar e sonhar com o príncipe encantado chegando num belo cavalo alado. E
passa o dia inteiro assim, entre livros de amores impossíveis, paixões
proibidas e poesias de dilacerar corações. E mais tarde, quando o sol se
escondia um pouquinho, seguia até à sombra dos laranjais. O vento batendo no
seu vestido longo, a brisa beijando a face rosácea, a flor da laranjeira caindo
sobre seus cabelos. Assim no passado, assim num tempo de meiguice e ternura.
Hoje não há quem não recorde com nostalgia e saudade das sombras dos laranjais.
Não há mais laranjais que guardem nos seus sombreados a beleza da vida. Tudo muito
diferente. E também ninguém mais se importa com o romantismo nem com as
sutilezas de um coração despertado para o amor e as belezas da vida.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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