Rangel Alves da Costa*
Eu e a pedra temos muito mais afinidades do
que nós mesmos possamos imaginar. Somos amigos, confidentes, lenço e ombro um
do outro. Na verdade, às vezes nem sei se sou a pedra ou se ela sou eu. Também
temos muitas características comuns: somos solitários, tristes,
incompreendidos, sofridos demais. E também somos demasiadamente amorosos e
sentimentais, ainda que imaginem sermos possuidores de corações verdadeiramente
petrificados. A pedra possui o meu retrato e eu retrato a pedra. Gosto de
distância, e a pedra também; gosto de ficar no meu cantinho sossegado, e a
pedra também; gosto de estar debaixo do sol e da lua, e a pedra também; gosto
de tomar banho debaixo da chuva, e a pedra também. Falo muito sozinho, e sei
que a pedra também. Há um mistério para sermos assim tão parecidos. A pedra foi
se formando grão a grão e eu também. Não nasci, fui sendo semeando ao sabor da
brisa e ventania. A pedra encontrou um lugar e ali permaneceu, e eu em constante
mudança para também encontrar meu destino de pedra. Ou de pó pelos ares. Mas
antes disso ainda quero ter muitos momentos ao lado da grande amiga. Não há
amizade mais fiel que a da pedra. A qualquer hora do dia chego e sou bem
recebido. Ela me acolhe e pede para que derrame minhas angústias e sentimentos.
Então eu falo e choro, alastro-me nos escondidos da alma. Ela escuta silenciosa
e depois sempre me estende o seu colo para um repouso. No seu leito adormeço e
acordo como se sua sábia palavra se entranhasse dentro de mim. Então me despeço
e caminho fortalecido para os enfrentamentos da vida.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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