Rangel Alves da Costa*
As noites são misteriosas, enigmáticas,
medonhas. E também traiçoeiras. É geralmente na noite que os inusitados
acontecem, que os sofrimentos despertam, que as enfermidades povoam, que as
sombras se tornam em verdadeira escuridão. Na noite um despertar assustado, um
chamado apressado, um telefone que toca, uma campainha que assusta, um pranto
que irrompe, uma lágrima que escorre, um terrível grito. Na noite a vida, a
sobrevida, a morte. Muito mais a morte do que se esperaria de a vida acontecer.
Este véu de luto há de ser retirado da noite. Esta feição de espanto e medo há
de ser afastada na noite. Esta aparência entristecida, aflita, melancólica, há
de ser expurgada da noite. Mas como, se ela chama para si desde o negrume à
escuridão? Mas como se a noite não se contenta em apenas ser escura para se
tornar também labirinto? Não sei, não sei, mas a noite resguarda ao vivente
muito além do que ele pode suportar na escuridão, eis que no seu negrume a
tristeza maior, a saudade maior, a dor maior, a solidão maior. E, além disso,
suas sombras espalhando as dores do mundo, as mortes, as mortificações, os
desalentos sem fim. E quando o dia vai clareando logo os sinos anunciam aqueles
que foram chamados. Vidas que não conseguiram vencer as traições das noites, os
destinos das noites tão traiçoeiras.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário