SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 27 de outubro de 2015

Palavra Solta: a vida do vento


Rangel Alves da Costa*


Sei que muita gente não entende nada sobre a vida do vento. Muitos sequer se dão conta que o vento existe. Só quando ele se torna ventania ou vendaval. Ainda assim, nestes momentos, geralmente se escondem por medo de sua face. Mas como temê-lo se não o conhece? Também muito pouco sei sobre vida, sua linhagem, sua existência, mas o pouco que sei não o faz distanciado de mim. E tudo o que sei sobre ele me habilita a imaginar sua doce feição, ainda que venha voraz e engolindo tudo. Ora, o vento é poético, é nostálgico, é saudoso, é mensageiro, é amigo, é presença constante, é sinal primeiro de tudo que acontece ao redor e além. O vento é força, é destemor, é ferocidade, mas também a suavidade da brisa, o passeio da aragem, a mansidão da calmaria. O vento gosta do ser humano de tal forma que ele mesmo vai seguindo a procura de cada um. Entra pelas janelas, pelas frestas, pelas aberturas. E entrando vai como em reconhecimento do ontem e do passado. Açula a cortina, balança a folhagem, levanta a saia, desforra a mesa, leva adiante os restos, sempre remexe por onde passa. E de repente aquele frescor no rosto, os cabelos esvoaçando, as folhas mortas passando adiante. E de repente a chegada apressada, em verdadeira correria, para anunciar a chuvarada que se forma adiante. Faz assim, mas sabe que as portas e janelas serão fechadas à sua presença. Insistente, vai açoitando, batendo à madeira, chamando até se cansar. E depois, entristecido, vai seguindo adiante num murmúrio de tristeza e sofrimento.
                                      

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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