Rangel Alves da Costa*
Sei que muita gente não entende nada sobre a
vida do vento. Muitos sequer se dão conta que o vento existe. Só quando ele se
torna ventania ou vendaval. Ainda assim, nestes momentos, geralmente se
escondem por medo de sua face. Mas como temê-lo se não o conhece? Também muito
pouco sei sobre vida, sua linhagem, sua existência, mas o pouco que sei não o
faz distanciado de mim. E tudo o que sei sobre ele me habilita a imaginar sua
doce feição, ainda que venha voraz e engolindo tudo. Ora, o vento é poético, é
nostálgico, é saudoso, é mensageiro, é amigo, é presença constante, é sinal
primeiro de tudo que acontece ao redor e além. O vento é força, é destemor, é
ferocidade, mas também a suavidade da brisa, o passeio da aragem, a mansidão da
calmaria. O vento gosta do ser humano de tal forma que ele mesmo vai seguindo a
procura de cada um. Entra pelas janelas, pelas frestas, pelas aberturas. E
entrando vai como em reconhecimento do ontem e do passado. Açula a cortina,
balança a folhagem, levanta a saia, desforra a mesa, leva adiante os restos,
sempre remexe por onde passa. E de repente aquele frescor no rosto, os cabelos
esvoaçando, as folhas mortas passando adiante. E de repente a chegada
apressada, em verdadeira correria, para anunciar a chuvarada que se forma
adiante. Faz assim, mas sabe que as portas e janelas serão fechadas à sua
presença. Insistente, vai açoitando, batendo à madeira, chamando até se cansar.
E depois, entristecido, vai seguindo adiante num murmúrio de tristeza e
sofrimento.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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