Rangel Alves da Costa*
Não há nada mais destrutivo que uma mentira.
Seu perigo é tão grande que pode causar uma guerra, ocasionar uma morte,
provocar desonra de difícil reparação. Mesmo desmascarada, ainda deixa atrás de
si um rastro injurioso e abominável. E não tem pernas curtas não. Pelo
contrário, a mentira sempre esteve à frente das maiores inovações tecnológicas.
Quando a ciência ainda apenas supunha a possibilidade do teletransporte ou da
viagem no tempo, a mentira já havia chegado lá. Quando os cientistas apenas
esboçavam teorias da materialização antecipada dos fatos, a mentira já havia
conseguido desde muito tempo. Ora, a mentira ultrapassa barreiras imaginadas
impenetráveis, possui a mesma posição lunar nas noites do planeta, tem o dom
especial de estar no passado e no presente ao mesmo tempo, prolifera-se num segundo,
passando de grão à imensidão. Para se ter ideia, uma mentira contada na sala da
frente vai chegar à cozinha já devidamente transformada. O que foi
ardilosamente ou falsamente espalhado de um modo, ao virar a esquina já possui
dimensões imagináveis, tanto no conteúdo como no espanto. Uma suspeita já é
repassada como confirmação, um ouvi dizer já se torna em certeza absoluta, um
talvez já se torna definição conclusiva. E sempre denegrindo as pessoas,
destruindo as honras e as reputações, espalhando aleivosias e ofensas baratas.
Neste percurso, todo mundo vai sabendo de tudo e ninguém se compromete a dizer
que não. Apenas repassa com gosto e sadismo. E no final das contas, quando o
estrago já está feito, então chega um e outro para rebuscar a verdade. Tarde
demais. Ante a mentira, até mesmo a verdade precisa esconder sua veracidade.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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