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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Palavra Solta: a ponte


Rangel Alves da Costa*


Quem está aqui e tem de partir, não há como seguir sem ultrapassar a ponte. O passo vem pela estrada, cansado de luta, fatigado das dores do mundo. Precisa de um descanso, precisa de paz, mas de repente se depara com o inusitado. A estrada repentinamente acaba e adiante somente uma ponte. Não é longa sua travessia, dá até para avistar brumas do outro lado, mas tudo tão impreciso que logo surge a dúvida: atravessar ou não? Mas não há como voltar, a estrada sumiu, não há mais passo nem esperança, e somente através da ponte para uma nova realidade. Uma ponte disfarçada em muitas. Às vezes estreita, às vezes larga demais; às vezes curta, às vezes comprida demais; às vezes segura, outras vezes parecendo frágil demais; às vezes de madeira, outras vezes de cimento armado. Seja como for, não há como fugir de sua travessia. Ao lado um abismo, baixo dela um precipício, e do outro lado a dúvida sobre o que será encontrado. Grita, grita, e ninguém responde. Precisa que alguém informe o que existe além de seu passo. Mas ninguém responde. Avista sombras, vultos, imagina enxergar borboletas, pássaros, flores silvestres, e até uma bela e angelical canção. Então coloca o passo sobre o estrado, ainda indeciso, mas firma o percurso e segue. Quanto mais caminha mais sente necessidade de seguir. Quanto mais próximo vai chegando ao outro lado mais deseja saber o que irá encontrar. E caminhando vai entre nuvens para um novo mundo, sem ao menos recordar que estava acostumado a caminhar sobre o chão.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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