Rangel Alves da Costa*
Recordo-me ainda do acordar na madrugada para
seguir pela estrada de chão sertanejo. Não demorava muito e já estava na
porteira da fazenda. Mais alguns passos e já estava cumprimentando o vaqueiro.
Meninote, sempre acompanhado de meu pai, não encontrava coisa melhor a fazer.
Minto. Nada comparável ao banho na chuva, à molhação debaixo das biqueiras, o
escorregar pelas calçadas de cimento liso. Também nada comparável ao dia
inteiro nas beiradas do riachinho colocando arapuca pra passarinho ou mesmo
pulando os quintais alheios para catar as frutas maduras. Voltando à fazenda,
não demorava muito e já estava no curral com caneca ou prato à mão. Tudo para
aproveitar do leite quentinho saído do peito da vaca. O vaqueiro ia fazendo o
trabalho de tirar o leite e eu estendendo a caneca por baixo. O leite caía
quentinho, espumando, numa brancura de algodão e cheiro de capim sertanejo.
Depois era só colocar um pouquinho de farinha, mexer com a colher e saborear
aquele prazer da vida. Cada vaca tinha um nome: Bonita, Malhada, Namoradeira,
Sertaneja, Mulata, Cabocla. Muitos nomes para muitas reses. Sim, meu pai era
rico. Mas depois ficou como aquela descrição de Drummond no poema Confidência
do Itabirano: Hoje só resta um retrato na parede. E como dói!
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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