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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Palavra Solta: flores tristes em buquê de espinhos


Rangel Alves da Costa*


As flores estavam tristes, murchas, outonais. E mais desalentadoras ainda por que em buquê de espinhos. O retrato da desolação. O buquê estendido ao relento, esquecido de qualquer mão, talvez esperando a destruição pelo tempo, pela voracidade da ventania ou pela dureza da sola que o transformasse em pó. Mas não era para ser assim. Quando colhidas numa manhã perfumada, as flores exalavam vida e frescor, beleza e aroma, encantando qualquer olhar e açulando os bons sentimentos do coração. Cada galho mais belo que o outro, com haste esverdeada e firmeza em tudo. E logo o mais belo buquê através de mãos apaixonadas e desejosas de entregá-lo ao ser amado. Mas o amor de ontem não é amor de hoje, o amor de instantes atrás de repente se transmuda com profundas e dolorosas consequências. E o buquê e o próprio amor vão se tornando pétalas mortas e espinhos pontudos, dilacerantes. E o buquê e o amor já não servem para remendar os retalhos que se despedaçam ao desvão da existência. Em instantes assim, de dor e sofrimento, somente lenços e decisões para o naufrágio ou o refazimento. E infelizmente os buquês de todos os jardins do mundo se tornam esquecidos à espera de uma nova estação. E morrendo vão até que o coração novamente semeie o amor e espere a primavera propícia. Mas antes disso, até superar as perdas, apenas flores tristes em buquês de espinhos.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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