Rangel Alves da Costa*
As flores estavam tristes, murchas, outonais.
E mais desalentadoras ainda por que em buquê de espinhos. O retrato da
desolação. O buquê estendido ao relento, esquecido de qualquer mão, talvez
esperando a destruição pelo tempo, pela voracidade da ventania ou pela dureza
da sola que o transformasse em pó. Mas não era para ser assim. Quando colhidas
numa manhã perfumada, as flores exalavam vida e frescor, beleza e aroma,
encantando qualquer olhar e açulando os bons sentimentos do coração. Cada galho
mais belo que o outro, com haste esverdeada e firmeza em tudo. E logo o mais
belo buquê através de mãos apaixonadas e desejosas de entregá-lo ao ser amado.
Mas o amor de ontem não é amor de hoje, o amor de instantes atrás de repente se
transmuda com profundas e dolorosas consequências. E o buquê e o próprio amor
vão se tornando pétalas mortas e espinhos pontudos, dilacerantes. E o buquê e o
amor já não servem para remendar os retalhos que se despedaçam ao desvão da
existência. Em instantes assim, de dor e sofrimento, somente lenços e decisões
para o naufrágio ou o refazimento. E infelizmente os buquês de todos os jardins
do mundo se tornam esquecidos à espera de uma nova estação. E morrendo vão até
que o coração novamente semeie o amor e espere a primavera propícia. Mas antes
disso, até superar as perdas, apenas flores tristes em buquês de espinhos.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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