Rangel Alves da Costa*
Os velhos escritores me chegam à memória como
livro bom. Contudo, imagino-os sempre como seres humanos totalmente diferentes.
Avisto-os como pessoas solitárias, entristecidas, silenciosas, melancólicas,
distantes de tudo. Não penso nos velhos escritores senão como pessoas quase
perdidas na semiescuridão de uma vela acesa, na sala ou quarto desarrumado,
rodeado de livros, de antiguidades, quinquilharias e traças. Ali uma estante
com manuscritos, raridades, obras raras, escritos de pesquisa. Sobre a mesa de
madeira uma velha máquina de escrever, um punhado de folhas amassadas por todo
lugar, um cinzeiro, um copo e uma xícara, talvez também um charuto ou carteira
de cigarros. Pelo chão ou sobre a mesa o vinho, a cachaça, o uísque. Assim sim,
pois aqueles escritores eram sempre adeptos da bebida e do fumo, da solidão e
da tristeza. E sei que muitas vezes, depois de horas e horas imaginando
situações para seus escritos, os personagens e as tramas somente surgiam depois
de alguns ou muitos goles. E depois, cansados, embriagados, fatigados de
inventar e reinventar, acabavam adormecendo debruçados na mesa ou estirados no
sofá da sala, já na completa escuridão. Mas não sem antes deixar no papel a
poesia perfeita ou a beleza romanceada que até hoje se tem como obra-prima. Mas
tudo nascido assim, entre chamas de velas, fumaça de cigarros e goles ardentes.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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