SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 81

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 81

Rangel Alves da Costa*


"Depois da chuva virá ainda a ventania", palavras que foram tomando o pensamento de Lucas em busca de significados. Ora, a ventania em si pode trazer consigo desde destruição até a possibilidade de levar coisas ruins para bem longe. Pode querer destroçar com tudo que encontrar à sua frente, impedindo sua fome voraz, como também pode ser o sinal de limpeza das realidades para que outras surjam, novas e mais fortalecidas.
Nestes pensamentos, ele adormeceu e não durou para que fossem surgindo na sua mente imagens de um longo sonho: "Estava defronte sua casa, no mesmo lugar onde havia aquela árvore imponente e sombreada. Contudo, ele próprio era a árvore, mais alta, mais forte, mais verdejante, com galhos e folhagens cheios de vida. Na sua copa, ninhos eram feitos e pássaros voejavam e pousavam a todo instante.
Em noites de lua cheia, com a luz brilhando por cima, era poético se ver e sentir aquela imagem maravilhosa. Contudo, aos poucos, com a mudança da estação, sentiu que suas folhas iam perdendo a cor e a rigidez, tornando-se amareladas e depois ganhando um marrom que não durou muito a ficar acinzentado, frágil, quase sem consistência e sem vida.
Os galhos também não tinham mais a força de antes, não sustentavam mais com segurança as folhagens e até os ninhos. Qualquer chuvisco que caía, ao invés de servir como alimento para ela retomar suas feições, ficava mais triste e sentia-se que ela murchava um pouco. Muitas folhas não suportavam os pingos leves e se deixavam cair, formando um verdadeiro tapete cinza no chão.
Quando o sol voltava a bater, as folhas que ficavam mais rijas tendiam também a se desprender dos galhos e também se espalhavam pelo ar, caindo embaixo e mais adiante. Certo tempo depois, quando a árvore já estava à mercê de qualquer mudança de clima para ficar cada vez mais despida, eis que ventos mais fortes começaram a soprar e todas as folhas que ainda restavam foram levadas para longe.
Agora a árvore estava completamente nua, apenas com galhos mais finos e pontiagudos sustentados nos troncos sempre robustos e parecendo que nada daquilo lhes afetavam. O vento soprava cada vez mais forte, mas como não havia mais folhas a serem levadas, apenas os galhos se retorciam num esforço para se sustentar. Contudo, sem poder de sustentação alguma, não suportaram os ventos que começaram a soprar num entardecer.
Com efeito, a ventania que chegou parecia ser a mais forte já vista ali. Mas uma coisa chamava a atenção: mesmo com toda sua força, velocidade e ferocidade, não trazia no seu rastro qualquer tipo de destruição. Por onde passava abalava tudo, contudo não tirava do lugar qualquer pano velho ou sacola de plástico. Os objetos se agitavam, porém sempre ficavam no mesmo lugar. Entretanto, parecendo que vinha na direção precisa da árvore, ao se aproximar se fez ainda mais forte e passou levando tudo, todos os galhos que haviam, deixando somente os troncos nus.
Diferentemente do que ocorrera com as folhas e galhos, que foram perdendo suas cores e plasticidade a cada dia, os troncos da árvore pareciam que não haviam sido atingidos por nada e demonstravam uma cor verdejante indicando que a vida ainda estava ali em sua plenitude e que não demoraria muito para que novos galhos fossem ramificando, crescessem fortes novamente e novas folhas fossem nascendo nesse ciclo da natureza. E foi o que aconteceu, e muito mais rapidamente do que o imaginado.
Em muito menos tempo do que o normal para que uma árvore se refaça, eis que numa bela e ensolarada manhã os pássaros já pousavam nos galhos e bicavam nas folhas numa festa sem igual. Tudo havia renascido e de forma ainda mais esplendorosa, mais bonita e tomando conta ainda mais da paisagem.
Entretanto, um fato surgido após esse renascimento chamaria a atenção de qualquer um que passasse diante daquela árvore. Verdade é que mesmo não sendo uma planta frutífera, foram surgindo nos seus galhos diversos tipos de frutas. Assim, se poderia enxergar mangas, goiabas, sapotis, pinhas e diversas outras frutas. Os pontos mais altos eram totalmente tomados por flores lindas de todas as cores. Um maravilhoso mundo estava ali representado. Seria aquilo um sinal do paraíso?".
Eis o sonho de Lucas. E quando acordou se pôs a decifrá-lo, chegando à conclusão que tudo poderia ser explicado através de um ditado muito conhecido: Depois da tempestade vem a bonança.


continua...





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-ertao.blogspot.com

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