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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

TODO MUNDO FAZ (E DIZ QUE ODEIA) (Crônica)

TODO MUNDO FAZ (E DIZ QUE ODEIA)

Rangel Alves da Costa*


É corriqueiro, é popular, está na boca de cada um que nunca é bom fazer com os outros aquilo que não quer que façam consigo. Meu avô dizia que a maldade é tão cega que nem se dá conta de que o tempo está lhe vigiando sempre. Já minha avó tinha o prazer em dizer que quem não souber atirar de baleadeira comece a virar o rosto. E sem medo de errar acrescento que as pessoas acham que os seus canhões só têm boca pra atirar. E vai que o bendito estoura bem na hora que o dono está limpando. Mas afinal de contas, onde se pensa em chegar com isso tudo?
Chegar apenas à certeza de que os seres humanos parecem ainda não haver aprendido algumas regras e fórmulas básicas da vida, tais como, por exemplo: toda ação provoca uma reação; ninguém está disposto a ser escravo de ninguém; ninguém tem sua honra garantida por seguradora para que qualquer um venha por trás e esculhambe; todo o que humilha esquece mais rápido do que o humilhado; aquele que apanha não pensa noutra coisa a não ser no momento certo para dar o troco; quem falou o que queria vai ouvir precisamente o que não queria. É tudo uma questão de causa e efeito, só para confirmar que as pessoas sentem o maior prazer em dar motivo e causar danos, porém sempre acham vitimadas demais quando o troco vem na medida ou em altura ainda maior.
Verdade é que coisas existem porque tudo mundo faz, mas sempre, com ares de inocência e santidade, afirmam que não suportam ver maldade sendo feita com ninguém. Quer dizer, agem errado, sabendo da maldade e da injustiça do ato, e ainda assim dizem que aquilo é o maior absurdo do mundo, que não se deve fazer com ninguém, que todos são filhos de Deus para serem respeitados. Mas isto só da boca pra fora, pois basta um rompante para que o outro seja um filho de não sei o que, tudo que de ruim possa existir.
Conheço muitas pessoas que se dizem equilibradas, se sentem honradas e honestas demais, possuem boa formação familiar, afirmar ler as Escrituras e ouvem os mandamentos, sabem criticar com honestidade as coisas erradas, mas não podem nem sonhar que alguma coisa envolve o nome delas. Sem saber a verdade ou a extensão real do fato, já abrem a boca e se tornam as pessoas mais nojentas do mundo. Esculhambam com o outro num segundo, rebaixam a tudo que possa existir de pior, e citam palavras que de tão covardes jamais serão esquecidas pelo que foi atingido.
"Seu ladrão safado, você nunca prestou, nem você nem sua raça, que deveria tá todo mundo preso"; "Seu corno, viado safado, xibungo, é isso que você é e diga que eu tô mentindo pra ver se não toma um tiro agora?"; "Imprestável, nojento, salafrário, ladrão de meia tigela, quem não presta é você e sua família"; "Prove que é mulher, sua puta safada, rampeira, que vive saindo com um e com outro, que não pode ver homem casado que vai em cima"; "Minha filha não, quenga é sua filha, que nunca foi mocinha e já é puta". Tais são apenas pequenos exemplos de absurdos ainda maiores.
Agora digam se estou mentindo, se não são estas as belas palavras que são proferidas de um instante para o outro por alguém que num segundo atrás estava com a bíblia embaixo do braço ou estava reconhecendo as qualidades do outro? É isso mesmo. Aquele que era uma pessoa maravilhosa e com as maiores lisonjas do mundo a um segundo atrás, se tornou de repente num ladrão, num corno, num viado safado. E a filha da outra que não tem nada a ver, coitada, nem sabe que está sendo chamada de tudo o que não presta. E tudo porque pessoas despreparadas ainda acham que têm o comportamento correto, normal.
Depois vão pedir perdão, invocar o nome do Senhor, de todos os santos e todos os anjos, e dizer que tudo aquilo não passou de um grande equívoco, de um momento de desequilíbrio, de um instante que parecia estar sem Deus no coração. Mas tem validade pedir perdão, se dali a instante vai abrir a boca novamente para dizer as mesmas besteiras com pessoas diferentes?
Tem gente que é assim, e é a grande maioria, que se acha incomodada demais se alguém disser que o seu lulu está sujando a calçada. Pra que dizer, se corre o risco de morrer, fora todo o tipo de baixaria que vai ouvir na mesma hora. Esculhambam, viram a cara e vão embora. Mas nem pensar que alguém diga contra a ela o mesmo, pois reconhecidamente não merece ouvir nada disso, pois é quase santa. Enquanto o outro, só porque ela quer, é tudo de ruim que possa existir.
Tenho um amigo que chama tais fatores de máximo grau da civilização. Tenho que concordar com ele.





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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