SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 13 de junho de 2010

CHAMO E NÃO RESPONDE (Crônica)

CHAMO E NÃO RESPONDE

Rangel Alves da Costa*


Porque chamo e não me responde, sinto o mesmo inconformismo de Jó quando diz "Ah! se pudessem pesar minha aflição, e pôr na balança com ela meu infortúnio! Esta aqui apareceria mais pesada do que a areia dos mares: eis porque minhas palavras são desvairadas".
Não dei motivos para não ser ouvido. O pensamento, a consciência, o espírito, a paz e até o passo, tudo está indeciso, desnorteado, sem saber o que fazer diante da palavra que não pode ser dita porque não pode ser ouvida. Essa angústia de não poder falar a verdade, não poder expressar sentimentos, não poder ser fiel à voz do coração, serve, nestes momentos de silêncio imposto, como fronteira de paz e de guerra, de alegria e tristeza e até de vida e de morte. Mas por que?
Se você que não quer ouvir minha palavra parasse e refletisse, certamente traria ao pensamento quantas lições o silêncio forçado escreveu no livro da vida. Os que se negaram a ouvir e os que continuam insistindo em não ouvir os ensinamentos do Senhor sempre estiveram por aí sem que ouçam os seus rogos por piedade e socorro, na lei de causa e efeito. Os comandantes alemães não quiseram ouvir os avisos da natureza soviética e sucumbiram na inclemência do seu inverno, na lei do respeito ao desconhecido. O aventureiro não quis ouvir os gritos da mata dizendo para não entrar e até hoje outros continuam sucumbindo nas buscas, na lei da selva. As margens serenas e azuis das águas vão escurecendo até borbulhar e ficar revoltosas, ainda assim insistiram em entrar...
Em tudo isso houve uma palavra que não foi ouvida, que não quiseram ouvir, que foi negligenciada. As andorinhas dizem do verão; a ventania diz do vendaval; as nuvens negras, relâmpagos e trovões dizem da tempestade; a saudade diz da lágrima; a discórdia diz da intriga; a lua diz da noite; o sol diz do dia; a chuva pode dizer da incerteza do tempo; o prazer diz do amor; a idade diz do tempo; as rugas dizem da experiência; o conhecimento diz da sabedoria; o passo diz da pressa; o abraço diz do encontro; a entrega diz do pedir; a palavra diz do motivo. E por acaso eu não digo nada para que não me queira ouvir?
Disso você não quer lembrar, não quer aceitar, não quer reconhecer o erro, mas durante toda esse vida tenho lhe mandado avisos, escrevi muitas cartas, memorandos, bilhetes, inúmeros telegramas, centenas de fax, telefonei que não lembro mais quantas vezes, usei de todos os recursos tecnológicos da comunicação. Chamei de todos os modos e por todos os meios e você não respondeu.
Mandei sinais de fumaça; fiz rufar códigos nos tambores; subi na montanha e gritei de um jeito diferente; enviei bilhetinhos nas asas do pombo correio; fiz lançar uma lança com um recado na ponta; pedi ao vento que fosse levando as mensagens que precisava que você lesse. Se existia o silêncio, este continuou agora na morte da palavra.
A palavra morreu mas você não tem culpa alguma pela morte da palavra. É que as coisas envelhecem com o tempo, se cansam, perdem as forças, e muitas vezes a razão de ser, e morrem. Mas a palavra que era forte, persistente e sonhadora, morreu insistindo em dizer o que vinha tentando há tanto tempo: Como você é importante para Deus! Era só isso que a palavra queria dizer: Como você é importante para Deus!
Como você é importante para Deus!, eis a palavra que você não quis ouvir. A palavra morreu, mas ainda há tempo de você ouvi-la. Ouça o seu coração e escute a palavra: Você é muito importante para Deus!



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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