NOTÍCIAS SOBRE O AMOR
Rangel Alves da Costa*
De repente o amor sumiu, ninguém sabe, ninguém viu, apenas por presunções afirmam que ele virou paixão e agora anda por aí fazendo loucuras com outra identidade. Viram ele na sacada de um prédio dizendo que ia suicidar; encontraram ele fazendo serenata na madrugada embaixo de uma janela; enxergaram-no correndo por dentro da mata com as mãos na cabeça; disseram que ele estava copiosamente chorando sentado num banco de praça; viram-no carregando mil ramalhetes de flores. Mas é tudo mentira, com certeza, pois o amor está onde sempre esteve e até mandou notícias para confirmar como vai sua vida.
Verdade é que o amor anda meio desgostoso. Há muito que vem reclamando do tratamento que lhe vem sendo concedido com o passar dos anos em meio ao que chamam de mundo moderno. Buscando modernizar tudo para adequar aos novos tempos de esfriamento nas relações e ao mesmo tempo de permissividade, os indivíduos passaram a esquecer que o amor é o único sentimento que tem o poder de tornar os corações distantes das influências negativas do progresso e da industrialização amorosa. É que amando de verdade as pessoas ficam imunes às tentações e às fraquezas da carne.
Não faz muito tempo que o amor pensou até mesmo em abdicar de seus propósitos na terra e voltar ao seu ventre de origem. Um dia imaginou que valeria a pena sair do estado da mais límpida pureza, do estado de ser jamais corrompido e da ideia original de bem, para se arriscar ajudando as pessoas a reconhecerem no amar uma forma possível de ser aproximarem dos objetivos do homem na vida: viver em comunhão, felicidade no coração e compartilhamento com o outro do melhor conquistado. Agora viu que não conseguiu seus intentos, que seus esforços ainda não foram compreendidos pela maioria.
O que entristece ainda mais o amor é sentir-se desvirtuado pelos gestos, palavras e ações que dizem ser de amor. O amor não tem dor, mas quando isso ocorre, dói de ferir a dor no amor. E nada mais dolorido do que usá-lo como pretexto para se aproximar, conquistar e depois enganar; do que usá-lo como argumento para ganhar confiança, se fazer acreditar e depois abandonar; do que usá-lo para ser amado, adorado e depois trair; do que usá-lo para ter ou outro, para ser o outro e depois relegá-lo à solidão. Tais aspectos entristecem muito o amor e teve um dia que até desconfiou da capacidade de continuar existindo na vida. Ora, se as pessoas fazem do amor brincadeira, fingimento, abuso, de que valeria a pena continuar se prestando a que façam tais absurdos usando o seu nome?
O amor gostaria mesmo é que ao menos fosse reconhecido pelos corações que se dizem enamorados. Tudo faz para ser reconhecido como elo maior da união e, mesmo sendo ainda o amor, se disfarça de carinho, de afeto, de afeição, de entrega, de prazer no convívio, de prazer na relação. E muitas vezes, quando somente um sente amor, e por isso mesmo recebe o infortúnio da solidão, esse amor demais age pelas faces mais difíceis que tem de mostrar, através da saudade, da lembrança, da angústia, do desespero e de outros afluentes do sofrimento.
Tudo isso dizem do amor porque imaginam que ele realmente foi embora. Mas digo e repito que nunca deu um passo sequer desse lugar, desse momento, do coração que acredita sempre na sua presença e permanência. Ontem mesmo gritou sem dizer que estava lá: alguém reconheceu que errou ao viver fingindo que jamais se preocupou com o outro e humildemente pediu desculpas em oração, e ele se fez presente como nunca naquele ser perdoado. Hoje mesmo, há instantes atrás, outro alguém sentiu saudades e beijou a fotografia escondida. E o amor sorriu, e resolveu trazer o outro amor de volta sem precisar dizer uma palavra sequer.
Agora mesmo o amor me confessou que está esperando somente o seu convite para a festa no coração.
Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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