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quinta-feira, 17 de junho de 2010

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 18

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 18

Rangel Alves da Costa*


Lucas ouvia atentamente o que dizia o Padre Josefo. Concordava com suas palavras, até porque tinha nesse diálogo silencioso a única forma de o indivíduo não negar o que realmente estava sentindo. Neste sentido, disse ao sacerdote:
- Tens toda razão, Padre Josefo, ainda mais quando cita que as respostas dadas por Deus às palavras dos fieis refletem imediatamente nas feições destes, nos seus gestos e atitudes. Sou exemplo acabado disto. Aconteceu-me há instantes um fato, que disse que só iria falar depois, mas por conveniência de exemplificação relatarei agora, que reflete muito bem essa discussão. É que acabo de perder o emprego na escola. Chegando lá para meus afazeres de professor e amigo, de repente sou surpreendido com um comunicado deixado pela diretora avisando da minha demissão. Não foi nem remanejamento, colocação em outra unidade de ensino, mas simplesmente demissão. Não sei onde encontraram amparo legal, mas a verdade é que o bilhete estava lá com o vigia dizendo que minhas atitudes estavam indo além das competências próprias do professor e querendo ser mais do que minha função exigia. Cita então que estou querendo fazer o papel de pai dos alunos e procurando ensinar de uma forma não aceita pela escola, pois lá deve ser o quadro negro, o giz, a velha lição e pronto. Não há espaço para discussão, palestras ou outras atividades, como passeios para adquirir conhecimento de uma forma diferente, nada disso. Logicamente que não estava escrito isso tudo, dessa forma como estou dizendo, mas o que continha leva ao que estou relatando. Pois bem. Diante desse fato, vim parar aqui na igreja e eis que senti a necessidade de dialogar com o Senhor Deus sobre isso. Certamente que já recebi as respostas e estas vieram apenas confirmar o que eu já estava pensando...
- ...que não há nenhum mal que não traga um bem, não foi isso mesmo que pensou? – interrompeu o padre, falando entusiasticamente, demonstrando muito interesse pelo que havia sido vivenciado por Lucas. E este prosseguiu:
- Isto mesmo, pois não há nenhum mal que não traga um bem. Haverão de reconhecer o erro imediatamente, mas será tarde demais, pois tenho planos maiores na vida, que se realizados apenas em parte já serão uma grande conquista para mim...
-...e tais planos certamente são frutos dos planos divinos para você. Não sei o que pretende fazer agora, mas sei que tudo já está traçado no seu destino, na sua página da vida escrita bem antes de você nascer. Como num arquivo, lá está tudo detalhado sobre sua vida. O que foi escrito foi escrito, nada ou ninguém pode mudar, a não ser você mesmo, através de suas ações. Nos planos divinos, são propostas as ações, mas a execução destas cabe ao vivente, que tenderá para fazê-las melhor ou pior. Assim, meu amigo, tenha certeza de que tudo que fizeres estará apenas copiando o que já está escrito. Como se diz, aprendendo a escrever em cima de outra letra. Se a pessoa que recebe a lição e o lápis e ainda escreve o contrário por cima, logicamente que não terá o destino que lhe foi prometido.
Lucas sabia muito bem o que o padre estava dizendo, pois acreditava também que o destino do homem já está traçado há muito tempo. Fez uma pergunta apenas para efeito de confirmação:
- Padre Josefo, se o indivíduo reescreve certinho a lição que lhe é dada e vive buscando agir corretamente, respeitando os mandamentos divinos e sendo possuidor de boas virtudes humanas, e mesmo assim as coisas que lhe são apresentadas na vida não parecem condizer com o que ele merece, pois tudo é muito difícil e carregado de sofrimento, o que o senhor pode dizer isso sobre essa situação?
- Ora, meu filho, se a um indivíduo é dado viver numa situação como essa que você relatou, certamente que todo o sofrimento que lhe aflige nada mais é do que uma provação, do que uma experiência divina para ver se está apto a cumprir uma missão maior sobre a terra. Pois alguns, como este que você exemplifica, não está na terra simplesmente para viver, mas principalmente para cumprir uma missão. São os missionários de Deus sobre a terra, que pode ser um sacerdote, uma freira, o papa ou uma pessoa comum. A estes é dada a missão de praticar as mais diversas ações benevolentes sobre a terra. Contudo, e isto eu quero acentuar bem, estes que estão em missão sobre a terra muitas vezes não sabem disto e, por incrível que possa parecer, são as pessoas que mais sofrem, que parecem carregar um eterno fardo nas costas. Mas não, tudo é provação, experiência divina. Aquele que tem missão tem sofrimento porque precisa sentir para entender melhor a dor do outro e ajudá-lo.
Levantando-se um pouco, pedindo em seguida que Lucas levantasse também e olhasse dentro dos seus olhos e ouvisse bem o que ia dizer, o Padre Josefo afirmou:
- Você tem uma missão nesta terra, por isso mesmo experimentará muitas dores, sofrimentos e solidão.


continua...





Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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