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quarta-feira, 23 de junho de 2010

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 24

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 24

Rangel Alves da Costa*


Diante da surpresa do rapaz, as duas crianças se acercaram dele, Paulinho colocou a mão no seu ombro e falou:
- É que resolvemos fazer uma surpresa pra você. Achamos que ia gostar de ver o barracão que tanto trabalho deu a gente cheio de pessoas, e como você está vendo, parece que p número de visitantes é bem maior do que a gente esperava. Cuidamos tudo direitinho pra que você não percebesse, mesmo quando a gente estava aqui ajudando aquela pobre família durante a semana. Tudo já estava certo. O Padre Josefo queria falar mas nós impedimos. Os outros meninos se encarregaram de avisar às pessoas, enquanto eu e Maria viemos mais cedo pra organizar o barracão, mas parece que todos já chegaram também, pois já estou enxergando alguns por ali. Se quiser pode ficar um pouco mais por aqui, mas nós temos que ir lá verificar como andam as coisas no barracão enquanto o Padre Josefo não chega – Após dizer isso, chamou Maria e se prepararam para sair, quando foram chamados por Lucas:
- Venham aqui seus danadinhos. Não precisavam fazer uma surpresa tão grande não, mas que surpresa encantadora. Só vocês mesmo e antecipo que já estou muito grato por isso tudo, viu? Isso demonstra o quanto estão interessados pela obra de vocês e a responsabilidade que passaram a ter para que tudo desse certo. Muito obrigado mesmo meus filhos. Agora vamos lá ver o que tem a fazer para que tudo dê certinho. Vamos... – E saíram em direção ao barracão.
Assim que o padre chegou num seu veículo caminhante tudo já estava organizado, porém com um pequeno problema ainda a ser solucionado. Com efeito, diante do número de pessoas que se aglomeravam ao redor – pessoas até mesmo estranhas na cidade, turistas ou viajantes, talvez – certamente que a missa não deveria ser realizada no barracão. Somente sendo três vezes maior para caber o número de fiéis ali presentes. De qualquer modo, a palavra final caberia ao sacerdote.
Quando desceu do veículo, que parecia já abrir a porta por conta própria, o homem da igreja ficou com os olhos brilhando de alegria. Contudo, intimamente demonstrava uma preocupação: a igreja não recebe tantos fiéis quanto os que estão aqui. Por quê?. Diante de tanta gente anunciou logo que o encontro pastoral seria realizado ali fora mesmo, diante e no meio da natureza, como uma forma de se aproximarem ainda mais de Deus. Falou sobre encontro pastoral e não de missa, demonstrando claramente que não queria que chegasse aos ouvidos da diocese que estava mudando de lugar o altar e o púlpito da igreja. Se soubessem disso seria repreendido, com certeza.
Desse modo, após rápidos preparativos e muito corre-corre dos meninos e de Lucas, diante de uma mesa rústica, bem diante da porta do barracão, o Padre Josefo começou a pregar. Inicialmente disse que não havia nenhuma pretensão em que considerassem aquilo como uma missa, pois não passava de um encontro onde um servo de Deus procuraria repassar ensinamentos ao seu rebanho. E acentuou bem que havia decidido proferir um sermão sobre a importância da ajuda do povo aos mais necessitados, tendo por base a grande generosidade de Deus perante todos. Então, o exemplo divino deveria recair nas mentes daquelas pessoas para que seguissem o caminho da generosidade para com o próximo, principalmente os afligidos pelas forças das circunstâncias.
Como introdução, falou sobre a família que naquela semana havia pernoitado naquele barracão, as circunstâncias pelas quais chegaram ali e a importância da ajuda do povo também pobre para que seguissem seu destino. Após isso, reverenciando sempre e colhendo das palavras contidas na bíblia, citou passagens de diversos livros e evangelistas, e tudo como forma de expressar a ideia da importância de servir aos mais necessitados. E assim falou:
"O dinheiro não é tudo na vida, como está em Provérbios, dizendo que há quem se faça rico, não tendo coisa alguma; e quem se faça pobre, tendo grande riqueza. O resgate da vida do homem são as suas riquezas; mas o pobre não tem meio de se resgatar.
Deus, meus irmãos, não se omitiu em honrar os pobres. Neste sentido é a lição extraída do livro de Tiago: Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que são pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?
Verdade é que Deus não esquece quem ajuda os pobres, pois está escrito: Bem-aventurado é aquele que considera o pobre; o Senhor o livrará no dia do mal. O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado.
Em Isaías está bem claro meus irmãos: Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desamparados? que vendo o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará. e a tua justiça irá adiante de ti; e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente; e se abrires a tua alma ao faminto, e fartares o aflito; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio dia. O Senhor te guiará continuamente, e te fartará até em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca falham.
Em Lucas enxergamos a preferência de Deus pelos pobres: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.
Por fim, que tenhamos em mente o que consta em Coríntios: O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância em abundância também ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para tornar abundante em vós toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda suficiência, superabundeis em toda boa obra, conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre. Ora, aquele que dá a semente ao que semeia e pão para comer também multiplicará a vossa sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus".
Neste sentido tomou percurso o sermão do Padre Josefo, e ao final de suas palavras muitos que estavam por ali choravam por fora ou se penitenciavam por dentro.


continua...




Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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