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domingo, 27 de junho de 2010

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 28

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 28

Rangel Alves da Costa*


Naquela noite, antes de adormecer profundamente ali mesmo na sala, aleatoriamente Lucas havia lido passagens da bíblia que falavam exatamente sobre ameaças e destruições, sobre o inimigo que chega querendo destruir, e em muitas daquelas palavras havia certamente que havia lido:
"Surgiram então, do pórtico superior que olha para o norte, seis homens trazendo cada um na mão o instrumento de destruição. Encontrava-se no meio deles um personagem vestido de linho, trazendo à cintura um tinteiro de escriba. Entraram para se colocar de pé ao lado do altar de bronze" (Ez 9,2).
"Quando os homens disserem: Paz e segurança!, então repentinamente lhes sobrevirá a destruição, como as dores à mulher grávida. E não escaparão" (I Tes 5,3).
"Há destruição e ruína nos seus caminhos" (Rom 3,16).
"O invasor agirá à sua vontade sem que ninguém possa enfrentá-lo. Deter-se-á no país que é a jóia da terra; e a destruição estará em suas mãos" (Dan 11,16).
"Tenho procurado entre eles alguém que construísse o muro e se detivesse sobre a brecha diante de mim, em favor da terra, a fim de prevenir a sua destruição, mas não encontrei ninguém" (Ez 22,30).
"Incendiaram o templo, destruíram os muros de Jerusalém, entregaram às chamas seus palácios e todos os tesouros foram lançados à destruição" (II Cr 36,19).
“Ele me livra de meus inimigos; sim, tu me exaltas sobre os que se levantam contra mim; tu me livras do homem violento" (Sal 18,48).
"(...) pois Deus não ameaça como os homens e não se deixa arrastar como eles à violência da cólera" (Jdt 8,15).
"Os que odeiam a minha vida, armam-me ciladas; os que me procuram perder, ameaçam-me de morte; não cessam de planejar traições" (Sal 37,13).
"(...) me fez conhecer que há um povo mal-intencionado, disperso entre os outros povos do mundo, de costumes contrários aos dos outros, que despreza continuamente as ordens dos reis, a ponto de ameaçar a concórdia que reina em nosso império" (Est 13,14)
"Aqueles que a queimaram e cortaram pereçam em vossa presença ameaçadora" (Sal 79,17).
"Não receeis as ameaças do pecador, porque sua glória chega à lama e aos vermes" (I Mac 2,62).
"Diante da profanação que ameaçava o templo, o povo se precipitava em multidão para fora das casas, a fim de se ajuntarem à prece comum" (II Mac 3,18).
"Sabendo disso, Judas mandou que o povo invocasse o Senhor, noite e dia, para que nessa circunstância, mais do que nunca, ele viesse em socorro daqueles que estavam ameaçados de perder a lei, a pátria e o templo" (II Mac 13,10).
"Reconhecido isso, ó rei, pela benevolência que testemunhas a todos, toma as medidas necessárias para a salvação de nosso país e de nossa raça ameaçada" (II Mac 14,9).
"Reformai, portanto, vossa vida e modo de agir, escutando a voz do Senhor, vosso Deus, a fim de que afaste de vós o mal de que vos ameaça" (Jer 26,13).
Estas e outras passagens bíblicas Lucas havia lido naquela noite, sem saber que mais tarde, lá fora, bem pertinho de sua casa, no barracão, um desconhecido ou desconhecidos, pessoas invasoras agindo como inimigos, e sabe-se lá seguindo quais ordens ou tendo quais motivações, chegaram de mansinho, na forma como agem os frios e traiçoeiros, e deixaram ali os primeiros sinais de que aquela construção estava incomodando, não haviam gostado daquela missa celebrada ali naquela manhã, não gostavam das pessoas que estavam à frente daquela rústica obra ou simplesmente quiseram amedrontar para deter avanços maiores e deixar algum recado maior suspenso no ar.
Com efeito, assim que madrugou e levantou espantado por haver adormecido na sala, Lucas abriu a porta e mesmo na pouca luz já existente pôde perceber que havia buracos num dos lados do barracão, pedaços de madeira e ripas estavam pelo chão e palhas espalhadas por toda parte. Ao se dirigir ao local encontrou as duas portas violadas, todos os bancos de madeiras de pernas para o ar, a mesinha com as quatro pernas quebradas e demais pertences do casarão totalmente revirados ou destruídos.
Pelas paredes estavam espetados alguns avisos: "Isso foi só começo", "Pensem bem no que estão fazendo", "Casa em pé, casa caída". Mas quem terá feito essa brincadeira de mau gosto? Ficou imaginando Lucas, enquanto procurava revirar os banquinhos. Depois saiu para fora e redondezas para ver se encontrava alguma pista, e nada. O inimigo continuava desconhecido.


continua...




Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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