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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 21 de junho de 2010

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 22

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 22

Rangel Alves da Costa*


Em tempo menor do que o inicialmente previsto, a construção já estava erguida e coberta. Tudo muito rústico, parecendo mais uma grande gaiola de paus, ripas, troncos, cipós, capins e folhagens, consistia de quatro laterais com cobertura à moda indígena, com duas portas de entrada, duas janelas laterais e uma porta ao fundo, sem nenhuma subdivisão por dentro. No vão interior apenas uma mesinha, uma velha cristaleira que fazia as vezes de estantee alguns banquinhos de madeira espalhados ali e acolá.
A criançada deu a ideia e Lucas convidou o Padre Josefo para benzer o lugar. Mesmo tendo acompanhado todo o processo de construção e até ajudado nos afazeres, o sacerdote demonstrou muita emoção assim que chegou ao local e viu os meninos em frente parecendo que estavam posando para uma fotografia. Era como dissessem que lutamos mas conseguimos. Assim, estava lá, uma brincadeira em tamanho grande, gigante pelos seus objetivos.
Lucas, particularmente, parecia mais emocionado do que todos. Sabia que aquilo ali não duraria mais que duas estações, vez que o ímpeto dos meninos logo se transformaria em descuido e o barraco se destruiria aos poucos pelas forças naturais. Contudo, a emoção que sentia era fruto do que via naquele momento, nos olhos brilhando de todos e planos maiores sendo detalhados a cada instante. Ora, nem bem haviam praticado nenhuma atividade ali e já falavam em construir uma coisa de verdade, de alvenaria, telhado, piso e uma placa bem bonita na frente. Que sonhassem esse sonho bonito! Era isso que tornava Lucas emocionado e agradecido por tudo.
Naquele mesmo dia o sacerdote reuniu todos no interior do barraco para benzê-lo e dizer algumas palavras. Assim, após fazer os sinais pelos quatro cantos pediu licença para dar uma palavrinha. E começou a falar:
- Todos os planos bons, todos os objetivos decentes, todas as lutas verdadeiras e todos os esforços empreendidos por uma causa justa são abençoados por Deus. No poder que o homem tem em construir para o bem, está também em Deus a esperança de que ele seja na vida um construtor de boas ações, abrindo sempre os caminhos para as palavras e os seus ensinamentos. Certamente Deus haverá de ter dito que é também possível a construção de sonhos, como este que vemos aqui, pois os sonhos é o que mantém as mentes vivas e vigilantes. E vocês, meus filhos, não somente sonharam fazer o bem como conseguiram fazer o bem, pois esta pequena construção será a porta aberta para conquistas muito maiores. E não podemos esquecer que na época de Jesus sobre a terra, quisera Ele encontrar quatro paredes levantadas para reunir o seu povo e dizer boas palavras, quisera ele ter um espaço igual a esse para se brincar de coisas sérias, pois o que vejo aqui é o início de algo muito maior, de algo que se cultivado dará certamente os melhores frutos. Quem viver verá. Para finalizar, que se atentem nestas palavras, extraídas do livro bíblico do Eclesiastes:
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu:
há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;
tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar;
tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar;
tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora;
tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar;
tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.
Que vantagem tem o trabalhador naquilo em que trabalha?
Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os afligir.
Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração deles, sem que o homem possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.
Já tenho conhecido que não há coisa melhor para eles do que se alegrarem e fazerem bem na sua vida;
e também que todo homem coma e beba e goze do bem de todo o seu trabalho. Isso é um dom de Deus.
Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar e nada se lhe deve tirar. E isso faz Deus para que haja temor diante dele.
O que é já foi; e o que há de ser também já foi; e Deus pede conta do que passou.
Vi mais debaixo do sol: no lugar do juízo, impiedade; e no lugar da justiça.
E acrescentou, ainda tirando das palavras do Eclesiastes:
Também vi eu que todo trabalho e toda destreza em obras trazem ao homem a inveja do seu próximo. Também isso é vaidade e aflição de espírito.
Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com bom coração o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras.
Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.
Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de vida da tua vaidade; os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida e do teu trabalho que tu fizeste debaixo do sol.
Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma.
E finalizou o padre:
- Com isto filhos, quero dizer-lhes que Deus está muito contente com vocês, pois da luta e do suor conseguiram dar vida a objetivos bons, e Deus gosta disso, protege as pessoas que agem assim e os seus ideais, mesmo que tenhamos muitas batalhas debaixo do sol, pois não se enganem que os dos que não querem o bem já olharam e enxergaram essa grande obra. Que lutemos para que a inveja não sopre nenhum vento ruim, não mova um só grão do que foi construído nem dificulte a prosperidade e as realizações.


continua...





Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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